Padre Luxemburguês que fundou cidade na Amazônia permanece pouco conhecido em seu país de origem

Em 22 de junho de 1661, a chegada do padre luxemburguês João Felipe Bettendorf na foz do rio Tapajós resultou na fundação da Aldeia dos Tapajós. O fato deu origem a cidade de Santarém, no oeste do Pará, uma das maiores da região norte e teve influência direta na consolidação do domínio português na região, além da implantação da fé cristã que permanece até hoje. Embora reconhecido e reverenciado na Amazônia, o missionário religioso permanece como um ilustre desconhecido em seu país de origem.

Nascido em 25 de agosto de 1625 em Lintgen, localidade que pertence à Luxemburgo, seus conterrâneos até sabem que Johannes Philippus Bettendorff esteve por aqui, mas desconhecem detalhes de sua vida e obra. A ausência de informações já chamou atenção até mesmo do embaixador do Grão Ducado no Brasil, Carlo Krieger. O diplomata visitou Santarém no ano de 2018.

Antropólogo, etnólogo e estudioso das missões religiosas no novo mundo, Carlo Krieger confirmou que há um conhecimento ainda muito vago sobre Bettendorf em Luxemburgo. “Há um interesse em saber mais sobre o trabalho jesuíta desenvolvido por aqui, mas não é tão aprofundado. Existem artigos, publicações sobre a vida dele, mas não é algo tão bem detalhado como no Brasil e principalmente na região, aonde ele fundou uma cidade”, declarou o embaixador na ocasião.

Bettendorf foi o fundado de Santarém. Foto: Mapio.net

Bettendorf estudou humanidades, filosofia, direito e teologia. Era um poliglota que falava alemão, francês, italiano, flamengo, espanhol e latim, sendo considerado extremamente culto. Em 1659, logo após a sua ordenação, foi designado pela Ordem Jesuíta para a Missão do Maranhão, na Amazônia Portuguesa, chegando em janeiro de 1661. Aprendeu o nheengatu, considerada a língua geral.

Ao fundador, em Santarém, é atribuída a construção da primeira capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Suas crônicas revelam que uma pintura de sua própria autoria foi uma das primeiras demonstrações da fé cristã em solo Tapajônico. Entre 1661 e 1695, foi o responsável pela construção e decoração de igrejas em Belém e São Luís. O jesuíta teria falecido em 5 de agosto de 1698, aos 71 anos.

Em artigos publicados entre 2011 e 2014 e reeditados em 2019, o jornalista Manuel Dutra aponta indícios de que Bettendorf pode ter sido sepultado em Belém. Sabe-se, ao certo, que o Padre foi Reitor (diretor) do Colégio de Santo Alexandre, e ali eram sepultados os religiosos que atuavam como professores.

Porém, segundo Dutra, as diversas reformas do prédio tornam um desafio descobrir onde, e se, ali está também o fundador de Santarém. O mistério permanece desafiando historiadores e jornalistas na contemporaneidade.

Colégio de Santo Alexandre, em Belém. Foto: Caroline Araújo