359 anos de Santarém: como a fundação de uma aldeia ajudou a consolidar a fé cristã e a presença portuguesa na Amazônia

No dia 22 de junho, Santarém, no oeste do Pará completa 359 anos. De acordo com a historiografia oficial, esta é a data da chegada do Padre João Felipe Bettendorf a foz do Rio Tapajós para instalar uma missão religiosa conduzida pelos jesuítas. Muito além da comemoração magna do município, a data também carrega significando especial: a consolidação da presença da fé cristã e dos portugueses na Amazônia.

Em pleno século XVII, a corrida colonial era ainda regida pelo Tratado de Tordesilhas, que dividiu o novo mundo entre os reinos de Portugal e Espanha. Inicialmente do lado espanhol, a Amazônia foi pouco a pouco sendo explorada e ocupada por lusitanos. Em 1661, pouco mais de 20 anos após fim da União Ibérica (1580-1640) a metrópole via a expansão de sua influência na região como estratégica e vital para a manutenção do sistema mercantil vigente.

Bettendorf, que era de Luxemburgo, não estava aqui por acaso. Era competência dos jesuítas levar o evangelho de Jesus Cristo ao interior da Amazônia. Ao desembarcar em solo Tapajônico, onde hoje fica a Praça Rodrigues dos Santos, iniciou o trabalho missionário.

“A vinda do padre Bettendorf para a missão que fundaria aqui onde hoje é a cidade de Santarém foi decidida pelo Padre Antônio Vieira, superior dos Jesuítas na Amazônia. O plano era de que a partir de Santarém, os jesuítas pudessem avançar ainda mais acima do Rio Amazonas.  O trabalho foi de fato missionário e de evangelização.”, ressalta Sidney Canto, padre e pesquisador das missões religiosas.

Ao Padre é atribuída a construção da primeira capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Suas crônicas revelam que uma pintura de sua própria autoria foi uma das primeiras demonstrações da fé cristã. Hoje, 359 anos depois a devoção permanece sendo manifestada pela população católica que anualmente dedica à sua Padroeira, no mês de novembro, o maior Círio fora da capital.

Estátua dedicada ao fundador na Praça Praça Rodrigues dos Santos

Perseguido, assim como os jesuítas, Bettendorf deixou para trás a missão que fundou. Seguiu sua atividade evangelizadora, sendo o responsável pela construção e decoração pictórica de igrejas na Amazônia, tanto na região de Belém como em São Luís até o ano de 1695, quando acredita-se que ele tenha morrido, aos 71 anos. 

A presença missionária na cidade durou quase 100 anos. Em 1757 foi criada a Paróquia e a fé cristã ficou a cargo dos padres diocesanos até a criação da Prelazia de Santarém, em 1903, já século XX.

Naquele 22 de junho de 1661, que seguimos comemorando, um padre luxemburguês transformaria definitivamente o curso da História. Então português, o Baixo Amazonas permaneceria integrado ao território quando a colônia rompeu o julgo da metrópole. A pequena aldeia seguiu seu caminho e se tornaria uma das cidades mais importantes do Norte do Brasil.