AGROECOLOGIA: ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E O MEIO AMBIENTE
Por Martha Costa/Imaflora
A adoção de práticas agroecológicas junto à agricultura familiar tem se destacado como uma abordagem inovadora que além de combater o êxodo rural, contribui com a conservação dos recursos naturais. Este modelo de produção oferece diversos benefícios, tanto para o meio ambiente quanto para a economia local e o bem-estar das comunidades.
Na região de São Felix do Xingu, a iniciativa tem dado frutos, aliás, uma diversidade de frutas, legumes, verduras, hortaliças, e isso é bom para todos. De acordo com Celma de Oliveira, coordenadora do Programa Floresta de Valor do Imaflora, no Sudeste do Pará, a agroecologia, proporciona um olhar mais amplo, para além das questões produtivas.
“A primeira coisa que a gente discute com os agricultores beneficiários do projeto Petrobras é justamente essa desconstrução do que é agroecologia. Que a agroecologia não é um conceito, não é apenas uma forma de produção, ela é um modo de vida, é um modo da gente se relacionar com a natureza, com as pessoas, tanto nas questões sociais, econômicas, culturais, ambientais e, também, política”, enfatizou Celma.
As práticas agroecológicas na agricultura familiar possuem um papel extremamente importante, uma vez que promove a saúde do solo, tornando as plantas mais resistentes a pragas, doenças e contribuindo para o combate às mudanças climáticas, visto que a água da chuva penetra melhor no solo, alimentando os lençóis freáticos, garantindo todo ciclo hidrológico para formação de chuvas.
“Hoje os agricultores entendem que não dá mais para produzir, garantir renda, se não conservar as nascentes. E se você não tem água, não tem um solo fértil, que está ali molhado, com capacidade de germinação, então você pode até plantar, mas sem água seu solo vai ficar cada vez mais ressecado. Em algumas áreas vai acontecer o que a gente chama de assoreamento e até um processo de desertificação dessas áreas”, complementou Celma.
A partir do trabalho de pesquisa e assistência técnica realizados no município de São Félix do Xingu (PA), os produtores compreendem que ao aderir ao programa e adotar as práticas agroecológicas conseguem produzir os insumos necessários dentro da propriedade, sem depender de produtos externos. Isso reduz os custos de produção, aumenta a produtividade, e o bem-estar familiar.
“O nosso grande desafio hoje é fazer com que as pessoas compreendam que é possível produzir, conservar e gerar trabalho e renda ao mesmo tempo. Também, adotar alternativas produtivas mais sustentáveis, criar mercados, ter preços diferenciados. Acessar políticas públicas traz valorização aos produtos agroecológicos, aumentado as possibilidades de acesso a créditos, infraestrutura. Nós do Floresta de Valor temos trabalhado fortemente em pesquisa e assistência técnica diferenciada junto aos agricultores familiares locais”, exclamou Celma Oliveira.
Novas formas de produção
Em um município onde a economia advém da pecuária, com o maior rebanho bovino do país, e do cacau, a agricultura familiar a partir das práticas agroecológicas, apresenta-se como uma solução sustentável e viável ao mesmo tempo em que promove a conservação ambiental, a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico local.
“A agroecologia, não se dá não é do dia para a noite, é um processo que exige conhecimento, adaptação, mudança de comportamento, quebra de paradigmas. Os agricultores têm a oportunidade de conhecer experiências que deram certo e que não deram. Por maio dessas experiências podem se apropriar dos aprendizados, então, não é algo imposto, e sim construído conjuntamente com o agricultor, a partir das experiências que ele vai viver”, citou Celma
Consciência ambiental
Distante 24 km do centro de São Félix do Xingu, o agricultor Wellington Moraes, é um dos 60 agricultores atendidos pelo Programa Floresta de Valor do Imaflora, que conta com o patrocínio da Petrobrás, por meio do Programa Petrobrás Socioambiental. Ele trabalha há 19 anos com a colheita de açaí nativo e plantio de cacau, há um ano iniciou o plantio de alimentos da agricultura familiar, sua adesão ocorreu após a experiência da esposa, que passou a fazer parte da associação na região da Comunidade Tancredo Neves, na zona rural de São Felix do Xingu.
“É uma realidade que a gente não vivia, de vez em quando a gente usava o agrotóxico, e a nossa consciência mudou. Na minha propriedade eu usei herbicida e depois da consultoria com o Programa Florestas de Valor do Imaflora a gente passou a trabalhar de forma sustentável. A questão do veneno é muito prejudicial por conta das fazendas que usam a aviação para pulverização como controle de praga”, citou após dar o exemplo da morte das abelhas (insetos polinizadores), responsáveis pela polinização de plantas como o maracujá.
Hoje, em sua propriedade de 14 alqueires, encontramos o plantio de subsistência do milho, quiabo, maxixe, pepino, mandioca, melancia, banana, onde no futuro ele pretende alcançar mercado junto a programas do Governo. Enquanto isso, aposta nas capacitações que inspiram boas práticas no cuidado com a terra, a água e toda a sua diversidade ecológica.
“Há pouco tempo a gente teve uma capacitação lá no meu açaí (plantio) e houve um aprendizado muito grande, desde o espaçamento das árvores até a supressão das touceiras e processo de produção do palmito e há todo o respeito com a natureza. Hoje a gente faz a adubação de forma orgânica e a gente está sempre plantando até como forma de respeitar a natureza e o meio ambiente”.
Foto: Wellington Moraes
Foto: Alesandra Sousa
Empoderamento feminino
Um exemplo do trabalho de empoderamento feminino é a dona de casa Alesandra Sousa, que há três anos passou a trabalhar com a agricultura familiar, para isso ela buscou a formação em curso técnico de zootecnia, transformando parte da área que antes servia de pasto para o gado, em um quintal produtivo, onde seus alimentos são 100% orgânicos. Beneficiados, seus produtos se transformam em de polpa de frutas, e são entregues ao Programa Nacional de Alimento Escolar (PNAE).
“O alimento produzido por mulheres que vem da agroecologia, é mais saudável, com qualidade, e é isso que a gente tenta convencer a população que não há necessidade de usar agrotóxico. As vezes tem a resistência de usar o agrotóxico, mas não na área de produção. Hoje eu posso dizer que a minha renda vem da polpa, livre da renda do meu esposo e eu entrego para o PNAE”, enfatizou Alessandra ao citar que começou o plantio da mandioca para a produção dos derivados, como a farinha.
Alessandra é uma das 43 mulheres que integra a Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas (AMPPF) em São Félix Xingu, atendida pelo programa Floresta de Valor do Imaflora. Na AMPPF, elas desenvolvem um trabalho com quintais produtivos, totalmente livre de agrotóxicos, e, juntas, produzem polpas de maracujá, acerola, abacaxi, goiaba, graviola, caju, cacau e da natureza coletam o cajá (taparebá) e o açaí nativo.
O Programa Florestas de Valor
O Programa Florestas de Valor do Imaflora, conta com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, desenvolve projetos que disseminam e fortalecem técnicas de produção sustentáveis na Amazônia brasileira. Fomenta a restauração florestal, estrutura cadeias da sociobiodiversidade e negócios comunitários, contribuindo com a fixação e manutenção de estoques de carbono, bem como com a geração de renda a partir de atividades sustentáveis para manter a floresta em pé e valorizar as populações tradicionais guardiãs do patrimônio socioambiental.
Sobre o Imaflora
Desde 1995, atua na promoção do uso sustentável e inclusivo dos recursos naturais. Seus projetos conciliam conservação ambiental e desenvolvimento econômico, atendendo a demandas das cadeias florestal, agropecuária, da sociobiodiversidade e da agenda climática. Realiza trabalho em campo, assistência técnica, serviços ESG e certificações, além de pesquisa e desenvolvimento de dados. (www.imaflora.org).
Fotos: Alesandra Sousa e Wellington Moraes