Apertem os cintos, o piloto sumiu!
Comédia americana do início dos nos 80, estrelada por Robert Hays, Julie Hagert e Leslie Nielsen, conta a estória de Ted, um ex-piloto traumatizado pela guerra, que está a bordo de um avião que fica sem sua tripulação. Elaine, sua ex-namorada, é aeromoça desse avião. Juntos, protagonizam inúmeras trapalhadas no comando da aeronave que precisam aterrissar com segurança para salvar a vida dos passageiros, porém, Ted precisa superar seus medos, para compreender e atender as instruções dos controladores de voo.
Voltando à realidade, longe do pastelão americano, Santarém vive o drama de estar sem tripulação. E se tem alguém no comando, o piloto parece estar completamente desorientado, e impondo um preço altíssimo à população, traduzido pelas perdas desconformes, de tamanha dor, daqueles que partem antes, em partida que retira, estranhamente, a vida do seu lugar, por uma caminhada inconclusa de horizontes, constituindo uma enorme perda de capital humano, enlutando toda população santarena.
Os argumentos e as provas cabais acostadas na Ação Civil Pública do Parquet paraense (“controlador aéreo”) proposta em face da fazenda pública municipal, em momento oportuno, e a tutela de urgência concedida pelo Estado-juiz determinando: (i) a suspensão das atividades não essenciais, (ii) apresentação de relatório circunstanciado sobre as medidas de enfrentamento do Covid-19, em até 72 horas, (iii) e que o estado do Pará dê cumprimento à decisão judicial, por meio das forças de segurança, por meio de fiscalização preventiva e repressiva, se necessária, por mais sete dias (até 31.05) – exprime a luta da sociedade civil organizada que têm denunciado o estado caótico e a fragilidade do sistema de saúde pública local.
A liminar judicial deixou sem paraquedas o piloto e a aeromoça, cujas decisões são despidas de cunho científico, obrigando-os a adotarem posturas mais incisivas e transparentes à frente da saúde, que produzam reflexos positivos em detrimento à doença pandêmica, numa cena em que os médicos não querem permanecer nas unidades de saúde, que estão desabastecidas de remédios, de insumos, de EPI’s e sem exames adequados para atender a população.
O sistema de saúde de Santarém está sem rumo, largado à própria sorte. Para completar, um tal “comitê de crises” que não tem legitimidade nem representatividade, decide sem respaldo técnico, de acordo com as conveniências do gestor. O resultado é visível: decisões desencontradas, povo desassistido, desmoralização da gestão. Até quando? Apertem os cintos, o piloto sumiu!
Texto: Ubirajara Bentes